Inauguração da exposição "Segredos" de Paulo Valentim , na Galeria da Fundação Rui Cunha, em Macau, 20 de Março de 2013
Photos by Nuno Cortez Pinto
Na primeira mostra a título individual que faz em Macau, o artista Paulo Valentim quis revelar ao público um percurso como ceramista, atravessado pelas viagens que já fez. No espaço da Fundação Rui Cunha, vão poder encontrar-se marcas do Brasil, de Macau e até dos caretos carnavalescos de Trás-os-Montes. O seu auto-retrato com traços vermelhos também está lá.
Os sons da guitarra portuguesa haveriam de o levar de encontro às máscaras – que guardam segredos em qualquer parte do mundo. Desse confronto nasceu o trabalho numa “linha contínua de criação”. Foi assim para o artista Paulo Valentim, que pela primeira vez inaugura uma exposição sua em Macau, e também no Oriente.
“Segredos” inaugurou ao público no dia 20 de março no espaço de exposições da Fundação Rui Cunha e estará patente até 20 de Abril. Paulo Valentim assume-se “expectante” por algo que considera “no mínimo curioso”, no sentido em que o leva a “tentar perceber o gosto que o público possa ter pelo seu trabalho”.
Toda a mostra se pode dividir em oito secções. As cores das máscaras são muitas, os materiais também – como “madeiras da porta de um templo” e outras coisas que Paulo Valentim foi “descobrindo na China”.
Um molde de uma máscara foi o inicio, que foi sendo trabalhado de várias formas ao longo dos tempos. Quanto ao nome da iniciativa, tem uma razão de ser. “São as máscaras. Tanto podem esconder como revelar. Segredos porque as máscaras inicialmente escondem, e depois revelam, ou não. O que está por detrás de uma máscara é o segredo”, conta.
O visitante é convidado a conhecer cada trabalho através de um catálogo. “Tem fotografias das peças expostas, e uma série de textos que acompanham cada uma das viagens. (Os textos) são escritos por amigos meus, ligados a cada uma das áreas expostas. Há textos para os caretos, as máscaras do Brasil, as máscaras chinesas, e as máscaras sobre Macau. E há máscaras sobre mulheres nuas.”
As influências
Todas as peças foram produzidas em Macau, no atelier de cerâmica da Casa de Portugal em Macau, onde Paulo Valentim é artista residente. Mas enquanto criava, a sua mente pensava nos lugares por onde já tinha passado, nos muitos espectáculos que deu. “O que visualmente se destacou das primeiras vezes que vim a Macau foi as marionetas antigas da ópera chinesa, que na altura estavam à venda nos antiquários. As cores mexeram comigo. No Brasil, das coisas que mais me impressionaram visualmente foram os artefactos indígenas dos índios da Amazónia. Depois os caretos de Trás-os-Montes. Todas estas informações que fui guardando estão reflectidas nesta exposição, e todas elas envolvem a minha experiência e envolvência.”
Há depois a figura de um guerreiro chinês com 1,80 metros de altura, para guardar a exposição dos espíritos maus, brinca Paulo Valentim. E uma figura grande de um palhaço com máscara, porque esta “é uma referência da infância, para todos nós”.
Quem estiver mais atento pode reparar numa pequena peça com tons de vermelho vivo, que não está para venda. É o auto-retrato do próprio artista. “Eu sou dragão de signo e decidi assumir esta peça como auto-retrato, porque na verdade tem a ver comigo. Tem a ver com esta sanguinidade toda que eu trago, a frenética vontade de trabalhar e fazer coisas. É o auto-retrato do artista, que quiser aceitar aceita, quem não quiser aceitar não aceita.”
Guitarrista de renome, a música não podia faltar na exposição “Segredos”. Por isso estarão expostas duas peças de máscaras, com ouvidos, de onde saem “elementos decorativos”. “Graças à música e à guitarra portuguesa que me permitiu fazer todas estas grandes viagens. E não posso deixar de associar.”
A cerâmica desde a António Arroio. Apesar desta ser a sua primeira exposição na Ásia, Paulo Valentim não é novo nestas andanças. Em Portugal o guitarrista mostrou os seus trabalhos várias vezes, onde chegou a participar numa mostra internacional de cerâmica portuguesa contemporânea, de jovens ceramistas portuguesas. “Não expus mais porque, se repararmos, não há assim tantas exposições de ceramistas, é um trabalho que leva meses a fazer, às vezes anos.” A técnica surgiu cedo. “Estudei na António Arroio e fiz cerâmica e ourivesaria desde sempre. Depois nunca deixei de fazer cerâmica, e passei por vários ateliers, até criei o meu, naturalmente. Mas este tipo de cerâmica mais contemporânea, que não tem técnicas clássicas, não tenho feito muitas exposições destas. Esta é realmente uma exposição em que algumas das referências dos últimos anos que me marcaram visualmente.”